A infertilidade pode ser um efeito colateral do tratamento do câncer e há um número crescente de pessoas em idade reprodutiva submetidas a esse tratamento. Este estudo – liderado pela Universidade de Aberdeen e Grampian NHS – analisa a percepção e a utilização de técnicas de preservação de fertilidade em homens e mulheres de idade reprodutiva, que foram recentemente diagnosticados com câncer. É o primeiro estudo a explorar a experiência de discutir a fertilidade futura no momento do diagnóstico de câncer entre homens e mulheres mais jovens.
Dezesseis homens e dezoito mulheres com idades entre 17 e 49 anos participaram do estudo junto a 15 profissionais de saúde envolvidos no tratamento do câncer. Os pacientes estavam recebendo tratamento para câncer entre agosto de 2008 e junho de 2010.
Os pacientes foram entrevistados logo após a sua primeira consulta para o tratamento de câncer. Os tópicos discutidos foram: percepções dos pacientes e compreensão do diagnóstico inicial, o prognóstico e as suas futuras escolhas reprodutivas, a qualidade percebida e fonte de informações recebidas, comunicação e apoio, e o papel dos parceiros, familiares, amigos e profissionais de saúde.
Além disso, os funcionários foram questionados sobre as suas opiniões relacionadas às informações dadas aos mais jovens com câncer, seus conhecimentos e pontos de vista dos tratamentos disponíveis com relação à preservação da fertilidade e suas percepções de prioridades dos pacientes. O documento revelou que quase todos os pacientes tinham recebido informações por escrito sobre o tratamento do câncer, e neste documento, apenas uma pequena seção envolvia o tema preservação da fertilidade.
Os homens foram incentivados a considerar o armazenamento de esperma, mesmo que eles já tivessem filhos. Quase todos tiveram uma discussão com a equipe de tratamento sobre bancos de esperma, além de receberem encaminhamento imediato caso quisessem.
Porém, pouquíssimas mulheres se recordavam de ter recebido informações ou discutido sobre a sua fertilidade pós tratamento.
A partir das entrevistas com a equipe, a principal razão pelo qual o tema não era discutido, era porque eles percebiam uma urgência maior das mulheres em tratar o quanto antes sua doença. O estudo também descobriu que os profissionais de saúde não discutiam o tema fertilidade, pois acreditavam que os pacientes já haviam recebido uma grande quantidade de informações durante a sua primeira visita.
Valerie Peddie, enfermeira especialista em fertilidade, e coautora do estudo, afirmou:
“Temos argumentado muito que, no momento do diagnóstico, os pacientes devem receber informações precisas sobre o risco potencial de fertilidade após o tratamento para o câncer, independentemente de instalações locais para a criopreservação de gametas existentes. No entanto, na realidade, a ênfase imediata é muitas vezes no tratamento contra o câncer, o que disponibiliza pouco tempo para a discussão da fertilidade futura ou opções para preservação da fertilidade. Nosso estudo demonstrou lacunas significativas na informação prestada às mulheres jovens diagnosticados com câncer e sugere a necessidade de uma consulta inicial com um especialista em fertilidade.”
Fonte: Wiley-Blackwell