Vamos inicialmente falar um pouco de fisiologia: todos nós sabemos que o testículo tem a finalidade de produzir espermatozóides e assim o faz; grudado ao testículo tem uma bolsa coletora que chamamos de epidídimo e para lá vão os espermatozóides produzidos no testículo, ficam por lá um tempo para adquirirem mobilidade – o espermatozóide é uma célula especializada que possui uma cauda que o faz movimentar se. Esta capacidade ele adquire no epidídimo. O epidídimo continua se em um canal que chamamos de canal deferente. Este canal leva o espermatozóide até a uretra e daí vão para o meio exterior. Neste percurso, o canal deferente recebe as secreções da próstata e da vesícula seminal. Assim, o sêmen possui: espermatozóides, secreção prostática e secreção da vesícula seminal. Então depois desta breve explicação fica fácil explicar a laqueadura masculina, mais conhecida como VASECTOMIA. Então em que consiste esta cirurgia: simplesmente ligar o canal deferente; em outras palavras obstruímos a passagem do espermatozóide para o meio exterior.
Embora a vasectomia seja feita com a intenção da esterilização permanente, ela pode ser revertida devido ao aparecimento de novos relacionamentos conjugais ou mesmo um novo desejo de ser ter mais um filho. Embora a reversão da vasectomia seja tecnicamente factível, a indicação e o sucesso desta reversão dependem de fatores masculinos e femininos. A idade da parceira é o principal elemento a ser considerado nesta decisão. Uma mulher completamente normal tem aos 35 anos apenas 12% de chances de engravidar por mês. Considero esta uma idade crítica. Recomendamos fortemente uma análise completa da parceira antes da reversão da vasectomia. Imaginem que eu faça a reversão da vasectomia e somente depois descubra que a mulher tem as duas trompas obstruídas. Tecnicamente esta não é uma situação ideal. Um ponto importante para discutirmos aqui é quanto à formação de anticorpos contra os espermatozóides.
Vejam que fato interessante: os espermatozóides não entram nunca em contato com nosso sistema imunológico, através do sangue. Então, quando fazemos a vasectomia este contato do nosso sangue com os espermatozóides acontece e aí o sangue que é repleto de células de defesa – sistema imunológico – reage formando anticorpos contra os espermatozóides, pois até este momento nunca havia tido contato entre estas partes. Aproximadamente 60% dos homens desenvolverão estes anticorpos. Alguns investigadores têm sugerido que tais anticorpos podem diminuir a chance de gravidez após a reversão da vasectomia. Entretanto isto não é consenso, conseqüentemente solicitar este exame antes da reversão é controverso.
Antes de se proceder a reversão acredito que o casal deva ser orientado quanto as técnicas de reprodução assistida, pois elas são menos invasiva, resolvem mais rapidamente o problema, mas podem ser mais caras do que a reversão. É geralmente aceito que a reversão realizada através de um microscópio que nós médicos usamos nos olhos pare ver melhor produz melhores resultados quando fazemos sem este instrumento, mas com o microscópio o tempo da cirurgia fica maior. Após a reversão sem o microscópio, aparece espermatozóide em até 80% dos homens, mas apenas 20 a 40% das mulheres engravidam. Mas quando a cirurgia é feita com o microscópio, em 90% dos casos reaparece espermatozóide e 50 a 60% das pacientes engravidam. Estes números são de um trabalho publicado em 1998 por Belker e seus colaboradores no livro Advances in Urology. Um ponto importante nesta nossa conversa diz respeito ao tempo decorrido da vasectomia até a reversão dela: sabemos que quanto mais tempo decorrido, menores são as chances de gravidez. Vejam este quadro abaixo:
Tempo de vasectomia Taxa de gravidez: |
3 anos 70% |
4 a 8 anos 50% |
9 a 14 anos 30% |
Mais de 15 anos 20% |
Como já enfatizamos a idade da parceira é fundamental para estes resultados acima, pacientes com menos de 35 anos enfeiam bastante estes resultados. É interessante o achado que quando o homem faz a reversão e se mantém com a mesma parceira as chances de gravidez são maiores do que quando a parceira é outra diferente. Em face de todas estas considerações acima relacionadas, orientamos aos casais a buscarem aconselhamento com profissionais especializados no intuito de discutirem sobre a possibilidade de congelarem os espermatozóides antes da vasectomia. Espero mais uma vez ter contribuído com uma boa informação. Tenham todos uma ótima semana.