Fertilização: Avanços e promessas da ciência – Dr. Evangelista Torquato

Com apenas um espermatozoide é possível fazer a fertilização do óvulo em laboratório. A técnica Icsi, criada em 1992, veio solucionar grande parte dos problemas ligados à fertilidade masculina

Homens com número insuficiente de espermatozoides ou com gametas de baixa qualidade não podem se utilizar da fertilização in vitro convencional. A alternativa antes da Icsi seria recorrer a bancos de sêmen e utilizar espermatozoides de doadores

Um único espermatozoide escolhido em laboratório é o suficiente para gerar uma nova vida. Com o advento da técnica Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide (Icsi), mesmo homens que fizeram vasectomia ou que possuem deficiências na qualidade e quantidade de células reprodutivas podem gerar filhos. Criada em 1992 e aplicada no Brasil a partir do ano seguinte, a Icsi é considerada uma revolução na área de infertilidade masculina.

”Essa é a técnica mais avançada que se utiliza hoje para o homem”, afirma o especialista em fertilidade, Evangelista Torquato. Ele explica que no método tradicional, a fertilização in vitro, é feita a coleta do sêmen e para cada óvulo são colocados 200 mil espermatozoides. Por proximidade, ocorre a fecundação e o embrião é implantado no útero.

No entanto, homens com número insuficiente de espermatozoides ou com gametas de baixa qualidade não podem se utilizar da fertilização in vitro convencional. A alternativa antes da Icsi seria recorrer a bancos de sêmen e utilizar espermatozoides de doadores. Considera-se que a concentração mínima necessária para que haja a fecundação natural seja de 20 milhões de espermatozoides por um mililitro de esperma. Menos do que isso, essa probabilidade fica comprometida.

Já com a Icsi, é retirada uma quantidade pequena de esperma diretamente do testículo. Apenas um espermatozoide é pinçado e colocado na ponta de uma agulha mais fina que um fio de cabelo. O gameta masculino é introduzido dentro do citoplasma do óvulo.

Segundo o urologista e especialista em reprodução humana, Roger Abdelmassih, com a Icsi, há 55% de chances de filhos nascidos, por tentativa, em mulheres até 35 anos. Um índice muito alto, se comparado com as chances de um casal sem problemas de fertilidade, que são de 15% a 18% ao mês. ”Significa que, com a Icsi, um casal com zero de possibilidades de ter um filho vai ter mais chances que um casal considerado normal”, observa Abdelmassih. Ele foi o pioneiro no procedimento no Brasil. A técnica se tornou conhecida ao ter sido utilizada por nomes como o jogador Pelé e os humoristas Tom Cavalcante e Carlos Alberto de Nóbrega.

De acordo com o urologista, de cada 100 homens da população mundial, quatro não possuem espermatozoides quando ejaculam. Desses, três possuem células reprodutivas dentro dos testículos e um não as produz. Para quem não produz espermatozoides, a Icsi não pode ser aplicada. ”A técnica mudou a expectativa, mas não resolveu completamente o problema”, pondera o médico.

No entanto, há perspectivas. Ele acrescenta que metade desse 1% de homens possuem células espermáticas, que quando maturadas dão origem aos espermatozoides. Para esse grupo, a ciência aponta resultados promissores de maturação dos gametas masculinos. Abdelmassih cita ainda pesquisas com células-tronco para produção de espermatozoides e óvulos que já trazem bons resultados com camundongos. Em breve, poderão ser utilizadas em humanos.

Para o urologista Sidney Glina, chefe do Departamento de Urologia do Hospital Ipiranga, em São Paulo, o desafio é conhecer melhor o aparelho reprodutor masculino e assim tratar melhor os problemas que levam à redução na qualidade e quantidade de espermatozoides. ”A gente ainda compreende muito mal como funciona o testículo. Ao contrário do sistema reprodutor feminino”, reforça. (Débora Dias)

TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA

Inseminação artificial ou intra-uterina 

É feita a coleta do sêmen, que deve ter cerca de quatro milhões de espermatozoides para o procedimento ter sucesso. O sêmen é centrifugado. São oferecidos nutrientes energéticos para melhorar a qualidade dos espermatozoides. Por esse processo, os espermatozoides ruins são eliminados e os bons se tornam melhores. Em uma placa de cultura celular, colocam-se 200 mil espermatozoides próximos de cada óvulo. Pela proximidade, o óvulo é fecundado. Depois, o embrião é colocado no útero da mulher.
Valor: de R$ 1.000 a R$ 1.500 por tentativa

Inseminação artificial com sêmen de doador
É feito o procedimento da inseminação artificial, com a diferença de que o sêmen usado é de um doador, que faz todos os exames clínicos para afastar a possibilidade de doenças e problemas genéticos. O doador repete todos os exames com três e seis meses e só então o material é liberado para uso. O pai e a mãe escolhem as características do doador, como tipo de sangue, cor dos olhos, cabelos e pele.
Valor: cerca de R$ 1.500 por tentativa

Fertilização in vitro ou bebê de proveta 
O método mais usado é o Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (Icsi). Uma pequena quantidade de líquido seminal é retirada dos testículos. Apenas um espermatozóide é pinçado e imobilizado, quebrando-se a cauda dele. O espermatozoide, que deve estar vivo, fica na extremidade de uma agulha cerca de sete vezes mais fina que um fio de cabelo. A agulha coloca no citoplasma do óvulo um único espermatozóide. Pelo procedimento, há de 60% a 70% de chances de fertilização do óvulo.
Valor: de R$ 5.000 a R$ 9.000 por tentativa

Congelamento de sêmen 
Alternativa para indivíduos em tratamento de câncer, como quimioterapia e radioterapia, que possam ter uma redução da fertilidade. É ainda uma opção para homens que vão fazer vasectomia e querem manter amostras de sêmen caso decidam depois ter um filho.
Valor: R$ 600,00 o procedimento e R$ 400,00 por ano para manutenção

Os valores foram informados pelas clínicas Criar, Bios e Conceptus. Dependendo do caso, os preços podem variar, sendo maiores que os indicados.

Fonte: César Pinheiro, especialista em fertilidade; Marcelo Rocha, especialista em fertilidade; Evangelista Torquato, especialista em fertilidade; Roger Abdelmassih, especialista em reprodução humana

TRATAMENTO

REDE PÚBLICA
Ambulatório de Andrologia do Hospital das Clínicas 
Todas as quintas-feiras, de 7h30min às 10 horas, o ambulatório realiza consultas e encaminha para exames de fertilidade. Oferece tratamento clínico para casos de alterações hormonais e infecções genitais. O ambulatório atua como parceiro da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), que realiza inseminação intra-uterina.
Endereço: rua Capitão Francisco Pedro, 290, Rodolfo Teófilo.
Telefone: 4009.8374

Ambulatório de Urologia do Hospital Geral César Cals (HGCC)
Realiza avaliação física para detectar alteração testicular, além de exames hormonais e espermograma. Os casos mais simples podem ser tratados. No entanto, não há reprodução assistida como alternativa para os casos mais severos. O usuário deve procurar uma unidade de atenção básica, que faz o encaminhamento da consulta, que é marcada pela Central de Marcação do Município.

Ambulatório de Urologia do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) 
Realiza exames de dosagem hormonal e espermograma. Para os casos mais simples, oferece tratamento clínico e cirúrgico. Não há reprodução assistida. Os pacientes também não podem marcar a consulta diretamente no hospital. Uma unidade básica de saúde deve fazer o encaminhamento e a Central de Marcação do Município agendar o atendimento.

Fonte: Leocácio Barroso, urologista do Hospital das Clínicas; Geraldo Eduardo Pinheiro, urologista do Hospital Geral César Cals (HGCC); Paulo Marcelo Accioly, chefe do serviço de urologia do Hospital Geral de Fortaleza (HGF)

 

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