As ligações entre Psicologia e Infertilidade

A psicologia pode ser uma grande aliada no tratamento da infertilidade. Há 40 anos, um casal infértil dispunha apenas de duas opções: continuar sem filhos ou adotar. Muitos deles satisfizeram seu desejo de serem pais, tornando se os tios favoritos de seus sobrinhos. Atualmente, entretanto, a construção cultural da infertilidade tem mudado, na medida em que os casais inférteis são expostos a uma grande quantidade de informações e a diversos tipos de intervenções e novos tratamentos médicos, através da tecnologia de Reprodução Assistida (RA).

Um casal com dificuldades de reprodução, nos dias de hoje, dificilmente não é confrontado com essas novas técnicas reprodutivas, as quais possibilitarão realizar o sonho de ter um filho. A infertilidade sempre existiu, mas, provavelmente, está mais em evidência graças ao progresso da ciência e da tecnologia.

O projeto de filhos, de constituir uma família são aspectos ainda muito valorizados na sociedade moderna. Apesar dos novos papéis que a mulher vem ocupando na sociedade contemporânea, a imagem associada à mulher mãe ainda é muito valorizada.

Esse desejo de filhos, família, de reprodução, de continuidade, entre outros significados simbólicos colados à procriação de seres humanos, é o que vem legitimando a proposição de uma série de inovações biotecnológicas, surgidas de forma contínua no campo da medicina reprodutiva.

Qualquer que seja o modo de concepção, um grande número de razões, com diversos graus de consciência ou de inconsciência pode motivar o desejo de ter esse filho: voltar à própria infância, satisfazer a necessidades infantis contrariadas, confirmar uma certa imagem de virilidade ou de feminilidade, canalizar uma necessidade ou uma capacidade de amar, viver uma gravidez, “ser como todo mundo ”, esconjurar a morte, satisfazer a um cônjuge, querer uma espécie de “segurança ” contra a solidão ou um “arrimo para a velhice ”… Enfim, o filho poderá ser o depositório involuntário de muitas significações freqüentemente inconscientes.
Marina Ribeiro, uma das palestrantes da VII J or nada de Psi col ogi a e Repr odução Humana Assi st i da e autora do livro “Infertilidade e Reprodução Assistida ” acrescenta também que o desejo de ter um filho origina se e permanece vinculado ao desejo narcísico de imortalidade do Eu. E uma maneira de nos aproximarmos da i mortalidade é a possibilidade de ansmitirmos a herança genética para os descendentes.

Liliane Seger Jacob, Doutora em Psicologia, coordenadora do GAM (Grupo de Apoio Multidisciplinar), e também palestrante da VII Jor nada de Psi col ogi a e Repr odução Humana Assi st i da ressalta que, uma das normas culturais é a lei de que todos os casais casados deveriam reproduzir ; a outra, é a de que esses casais deveriam querer reproduzir. Muitas mulheres respondem positivamente à pressão cultural de ter filhos. Esse desejo, culturalmente moldado, parece ser extremamente forte, transcendendo sexo, idade, raça, religião, etnia e classe social.

Ter filhos, tornarem se pais e estabelecer uma família, quando um casal assim o deseja, é considerado, na sociedade, parte da vida adulta dos homens e das mulheres. Quando esta situação esperada não acontece, é necessário um processo de reorganização, tanto individual quanto do casal, para poder lidar com a nova realidade, muitas vezes inesperada, de não poder ter um filho biológico. O projeto parental, em caso de não se concretizar, significa um rompimento dos afetos colocados nos filho desejado.

A perda da fertilidade, e de uma criança que ainda não foi concebida, não é um evento socialmente reconhecido pela sociedade. Não existem rituais que legitimem a dor de um casal infértil pela criança que ainda não foi concebida, transformando se a infertilidade em um luto silencioso e solitário de quem não consegue conceber um filho.

Como esse momento de infertilidade não é prevista, a não ser em situações especiais, a maioria dos homens e das mulheres não estão preparados para enfrentar esse diagnóstico, mesmo que este seja transitório.

O casal passa por um período de reavaliação e reorganização do seu projeto de vida, em função desta incapacidade de serem pais. Geralmente desencadeia se uma situação de crise em que muitos casais têm dificuldades para desenvolver mecanismos adequados para lidar com uma perda, temporária ou permanente, da possibilidade de ter um filho biológico.

Diante a nossa experiência na Clínica, muitas vivências são experienciadas pelos casais que passam pela infertilidade. Geralmente, as relações do casal com seu mundo cotidiano vêem se alteradas ; as relações com os pais, famílias e amigos vêem se afetadas, a vida sexual também pode ser comprometida, e os mitos e o desconhecimento em relação à infertilidade e impactos para o homem e para a mulher, podem trazer repercussões emocionais para cada um e para a relação do casal.

A nossa proposta com o Serviço de Psicologia é a realização de uma entrevista psicológica como parte do protocolo para todos os pacientes da Clínica, proporcionando e evidenciando que o casal não esta sozinho com suas questões. Além do mais, não se trata apenas de escutar, mas, sobretudo de levar quem fala, ou o casal, a se escutar. É oferecer um pensar/falar sobre o que esta mais consciente em relação ao problema da infertilidade, mas também sobre os medos, fantasias, e expectativas sobre o que se está vivendo.
No trabalho com Reprodução Assistida percebemos que cabe a equipe de profissionais ajudar o casal a atravessar essa situação.

A nossa proposta é poder escutar e acolher os casais, muitas vezes fragilizados por todo o estresse e frustrações que a falta de um filho impôs as suas vidas. O importante é que eles sejam acolhidos quando se depararem com este real de não poder ter filhos por meios naturais e dar um sentido a essa angústia, criando e proporcionando um espaço e um tempo para que se possa falar dela.

Dentro ainda da dinâmica de atendimentos aos casais inférteis,
estamos com um projeto para colocar em ação no ano que vem, que é a implantação do nosso grupo de apoio multidisciplinar, que serão encontros de grupos com os casais e profissionais da equipe da BIOS, onde através da troca de experiências em comum, poderemos criar instrumentos para melhor atravessar este período de inerente fragilização.
Um outro momento oferecido pelo Serviço de Psicologia é o de acompanhar este casal que não obteve um resultado positivo de gravidez.

Possibilitar a verbalização de suas frustrações e angústias podendo ajudar a reduzir a magnitude deste momento e propiciar ao casal pensar sobre perspectivas futuras.

E com objetivos de proporcionar um ambiente acolhedor e mantermos nosso vínculo com os casais que obtiveram êxito no procedimento, estamos desenvolvendo um espaço de acolhimento destinado ao “Casal Grávido ”, que entrará em ação no ano de 2008. Serão vários Workshops destinados ao Desenvolvimento do Bebê e que irá contar com a presença de profissionais de várias áreas que ministrarão temas que fazem parte dessa jornada que é a maternidade e a paternidade.

Outro grande trabalho que estamos estudando é conhecer o “Domar Center ” que oferece um programa destinado à saúde da mulher e do casal infértil. Recentemente, nós nos comunicamos com Alice Domar, psicologa, e reconhecida internacionalmente como uma líder no campo do Equilíbrio Mente /Corpo na mulher. Este centro é situado em Harvard, MA, EUA, e oferece uma abordagem holística para a saúde da mulher.
Alice Domar, PH,D., desenovleu varios métodos singulares e cientificamente sólidos para as mulheres que enfrentam a infertilidade e demonstrou sua eficácia atraves de pesquisas revolucionárias nesse campo.

A BIOS reconhecendo o trabalho fantástico que vem sendo desenvolvido nesse Centro para casais com infertilidade, entrou em contato com a equipe e agora está se preparando para investir em um treinamento para profissionais da area de saúde mental, ministrado pela Dra. Alice Domar e sua equipe de profissionais com o intuito de aprimorar seu trabalho e adquirir maiores informações, capacitação e habilidades, para proporcionarmos aos nossos pacientes da BIOS um serviço de qualidade que visa o bem estar psiquico.

Por: Flávia Soares Parente – Psicóloga

 

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